Quanto maior a altura maior é o tempo de pavor que o trabalhador terá até encontrar a morte em um impacto violento contra uma superfície rígida qualquer. Os trabalhadores que encontram a morte dessa forma, ou de forma qualquer no labor diário, são pais de famílias e, na maioria das vezes, o arrimo único ou provedor principal, deixando então desamparados esposas, filhos e consternados com a tragédia colegas de trabalho, parentes e amigos.
Um número enorme das famílias atingidas por um mortal acidente no trabalho se desestrutura completamente ou, no mínimo, passa por grandes dificuldades. O anúncio da morte acontecida no trabalho é extremamente chocante para a família, que pensará: "Meu Deus! E agora?"
A morte de um trabalhador representa enormes consequências para todos os envolvidos, mas sem dúvida, a maior de todas será absorvida pela família. Além do sofrimento e dor, têm pela frente uma batalha contra os meandros da burocracia do sistema previdenciário, contra os complexos e longos caminhos do Judiciário na demanda por dano moral, na busca e libertação do seguro por direito nos acertos de contas na empresa empregadora. No encontro com a morte, também pensa: "Meu Deus, protegei minha família".
Ainda na consequência da ocorrência do acidente, o trabalhador sofrerá uma derradeira injustiça. As instituições voltadas ao atendimento de tragédias manifestam que o trabalhador usava o equipamento de segurança na hora do acidente, como se tal afirmação precipitada e carente de informações técnicas justificasse a morte ocorrida.
Se não há justificativa para um acidente de trabalho, de quem é a culpa então? Na maioria das vezes do empregador, por negligência ao não cumprir e não fazer cumprir as obrigatoriedades das normas regulamentadoras, parte integrante da consolidação das leis de trabalho.
Do empregado, por imprudência, ciente de sua experiência e habilidade no seu trabalho, o mesmo tem a falsa sensação de segurança, começa então a ser imprudente frente aos riscos presentes em suas atividades.
Dos engenheiros, supervisores, gerentes e outros no comando por imperícia. As escolas de engenharia se esforçam para capacitar seus alunos por meio de um corpo docente altamente qualificado, grade curricular de excelente conteúdo, laboratórios e equipamentos de última geração.
Entretanto, não ensinam aos futuros engenheiros a relação de trabalho, segurança, saúde e bem-estar de seus comandados ou colaboradores. Poucas são as escolas de engenharia que têm disciplinas obrigatórias para tratar desses fundamentais assuntos.
Por último por falta de ação, o governo federal, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego – na minha opinião uma pasta mais técnica que política –, que deveria priorizar entre suas enumeras atividades três assuntos: fiscalização preventiva intensa nas empresas de acordo com o grau de rico; estabelecer metas de redução de acidentes, até concedendo incentivos fiscais e sociais, na busca de acidente zero; e permanente campanha prevencionista, na mídia, até se estabelecer no Brasil uma cultura de segurança no trabalho.
Acredito que os itens acima enumerados já devam ser objetivos da MTE, mas um ministro desta importante pasta mais preocupado com a saúde e segurança dos trabalhadores brasileiros do que com sua carreira política, reduziria em muito o sofrimento de milhares de famílias vítimas de acidentes no trabalho, economizaria para o Estado milhares de reais investidos pela Previdência Social para indenizar vitimados, economizaria à Justiça do Trabalho milhares de horas nos julgamentos das ações por danos morais e, acima de todas essas economias, a garantia de uma jornada de trabalho segura, digna e compensatória ao trabalhador brasileiro que, ao fim de sua jornada diária de trabalho, pensará: "Obrigado, meu Deus, por mais um dia de trabalho e de vida".
José Jair Boeira
Engenheiro civil, engenheiro de
Segurança no Trabalho e professor
Engenheiro civil, engenheiro de
Segurança no Trabalho e professor
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