Quando os Irmãos Joesley e Wesley
Batista entregaram, no final de meio, as gravações e outros documentos provando
relações ilícitas com o governo para conseguir vantagens comerciais e participam
para os Estados Unidos, eles deveriam imaginar que sua imagem e a de sua
companhia JBS seriam abaladas, mas talvez não calculassem a extensão dos
problemas. Com 125000 funcionários no Brasil e 34 000 ações na Justiça do
Trabalho, a maior processadora de carnes do mundo chegou a perder 16 bilhões de
reais em valor de mercado, o preço de suas ações caiu para a casa dos 5 reais
desde então, a JBS vem sofrendo boicotes - o mais recente promovido pela rede
de pizzarias Domino's, com 300 lojas espalhadas pelo Brasil.
Outros nomes têm dividido com a JBS as
manchetes dos tabloides e revistas, apenas na Operação Lava Jato foram citados
pelo menos outros dez pesos pesados da economia brasileira. Além das histórias
de corrupção, problemas ambientais, como a lama da Samarco no no final de 2015
e campanhas publicitárias polêmicas, como a da Ambev no Carnaval do mesmo ano,
também levam as corporações à boca e à timeline do povo. É um fenômeno mundial.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a. companhia aérea United Airlines desvalorizou
l bilhão de dólares depois de sua tripulação arrastar para fora do avião um
passageiro de 69 anos que se recusou a ceder o assento pelo qual havia pagado a
um comissário. Um vídeo no qual o cliente aparece sangrando após o fato teve
mais de 2 milhões de visualizações.
Novas
tecnologias de mídia amplificaram radicalmente impacto negativo dos produtos
defeituosos, das práticas fraudulentas e do mau tratamento às pessoas, sejam
elas clientes ou funcionárias, deixando os negócios vulneráveis. "A
companhia perdeu o direito ao discurso unilateral Agora, ela e obrigada a
entrar na conversa“, diz Ana Luisa Almeida, presidente para o Brasil do Reputation
Institute, que há 20 anos avalia a fama corporativa. Não é à toa que líderes empresariais
nomeiam, por dois anos consecutivos, o dano à marca e à reputação como o
principal risco para os negócios à frente até do nervosismo com a desaceleração
econômica, da incerteza política e da incapacidade de inovar. Os dados são da
pesquisa Global Risk Management Survey, realizada em 60 países pela consultoria
Aon, com 2.000 executivos de nível C. Ainda segundo o estudo, existe 80% de
risco de uma organização perder pelo menos 20% de seu valor patrimonial em
qualquer mês durante meia década devido & uma crise de opinião pública. Chegou
a hora de tratar a reputação como um diferencial competitivo com impacto
inclusive na gestão de pessoas.
Bônus
pelos Riscos
Se
a conjuntura econômica do país fosse inversa à atual e continuássemos na situação
de pleno emprego em vez da alarmante taxa de mais de 13% de desempregados, o
choque dos recentes escândalos estaria sendo muito maior para os negócios. Uma organização
com 10 000 reputação funcionários e má reputação gasta 7,5 milhões de dólares a
mais para contrata funcionários, em comparação com aquela que tem uma imagem de
boazinha, segundo uma pesquisa do Linkedin. É o custo do chamado salário de
risco aquele montante que principalmente o executivo recebe ao aceitas
ingressar num lugar envolvido com alguma desgraça. Afinal o mercado já estabeleceu
alguns padrões. Mesmo que esse profissional não tenha se envolvido nos escândalos
ele permanece.
Um ano na “geladeira" para limpar
seu currículo. Quando retorna à ativa, volta ganhando 20% menos. A pesquisa do
LinkedIn indica que metade dos candidatos se recusa a entrar numa empresa
malfadada. Menos de 30% aceitariam ir, mas com uma remuneração 10% maior. “A
área de recursos humanos de uma companhia de tabaco ou álcool tem
tradicionalmente mais dificuldade em contratação, mas por questões morais.
Problema maior têm as envolvidas nos grandea escândalos de corrupção ou em
crimes ambientais, porque elas passam para o público a sensação de
traição", afirma Marco Tulio Zanini, coautor do livro Gestão Integrada de
Ativos Intangíveis Cultura, Liderança, Confiança, Marca e Reputação (Editora
Saraiva). Se a má fama prejudica e encarece o recrutamento, o oposto também é
verdadeiro: a boa reputação ajuda a atrair e a manter os talentos. Instituições
com honra registram turno ver reduzido e custo de contratação duas vezes menor.
A maneira mais rápida para um negócio fortalecer seu nome é usar a qualidade de
suas políticas de gestão de pessoas. Trabalhar um Sistema de remuneração focado
em mérito, investir pesado em educação e se apresentar ao mercado com uma
postura diferente são alguns exemplos. “O que vai resgatar a imagem não são os
resultados econômicos estes servem para garantir a estabilidade e os empregos.
O que muda mesmo a imagem é a forma como a empresa trata as pessoas
internamente. Porque quem constrói a reputação são os indivíduos, e quem
destrói também", diz Luiz Carlos Cabrera, professor na Fundação Getúlio
Vargas e conselheiro do instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Mea-culpa
O
primeiro passo para reconquistar a confiança do mercado é assumir a
responsabilidade e mais que isso mostrar as atitudes tomadas para que os erros
não se repltam. For o que fez Martin Wlnterkorn, então presidente da Volkswagen
na Alemanha, quando se desculpou em publico pela montadora ter falsificado os
da dos de emissões de poluentes em 2015. Caminhos parecidos tentaram seguir os
irmãos Batista, da JBS, ao publicar uma carta de desculpa à nação, assim como a
Braskem, do grupo Odebrecht, igualmente citada na Operação Lava-Jato.
“Primeiramente,
tenho de pedir desculpas pelo que foi feito por ex -funcionários. Sabemos que
suas ações afetam os brasileiros”, diz Marcelo Arantes, vice-presidente de
gente e gestão da Braskem.
Em
março de 2015, houve a denúncia de que a companhia petroquímica tinha pagado
propina a um fornecedor. Urna investigação interna foi aberta e, um ano e três
meses depois, nada havia sido descoberto. No segundo semestre de 2016, ex-líderes
da Braskem contassem os crimes. “Isso contaminou 100% das pessoas e seu orgulho
de pertencer à empresa“. diz Arantes. Em dezembro, a Braskem fechou um acordo
com as autoridades americanas. Brasileiras e suíças se comprometendo a pagar
uma multa de 3,1 bilhões de reais. “Comunicamos o mercado e os funcionários ao
mesmo tempo, Os líderes foram orientados a se aproximar das equipes, deixar que
fizessem perguntas, e pedimos desculpas de novo. Vamos garantir que não aconteça
novamente“, diz, o empenho passa inclusive pelo novo presidente da operação no
Brasil. Fernando Musa (antes líder da Braskem para as Américas). Ao chegar à
empresa, em meados de 2016, ele visitou as unidades para responder às dúvidas
dos funcionários. Com a ajuda de um headhunter, a companhia também contratou um
chief com pliance officer, um diretor de obediência às leis. A negociação ocorreu “conforme os melhores padrões de
mercado", diz o RH. O novo executivo instaurou 150 ações de conformidade.
Os
projetos de gestão de peso as foram mantidos, líderes treina dos e pactos com
diversidades assinados. O programa de estágio, que abria duas vezes ao ano e
recebia 19.000 inscrições, foi unificado e teve 21 000 candidatos na última
edição Arantes se mantém otimista “Pela forma como conduzimos a crise, não
tivemos um grande impacto financeiro. “ No último período, a Braskem registrou
um prejuízo líquido de 2.6 bilhões de reais, Mas Arantes também é realista.
"Alguns profissionais se recusaram a participar de processos seletivos,
mas foram casos pontuais. A reversão da opinião pública negativa é um processo
longo."
Para
Grahame Dowling, profes ser na Universulade de New South Wales. na Austrália, e
autor do livro Winning the Reputation Game Creating SLakehalder Value and
Competitive Advantage (sem versão para o português), a I'ama corporativa
funciona como um ativo mais valioso durante um colapso. “Quando a companhia
precisa do benefício da dúvida, é a reputação que assegura mais tempo para ela
retificar seus problemas e sair da crise com dignidade,"
MERCADO
Foi
a reputação construída ao longo de cinco décadas que evitou um desastre maior
na Promon, outra das listadas na Operação Lava Jato. A crise da marca somou-se
à econômica e, enquanto se defende na Justiça, a organização passou por cortes
profundos, diminuindo de 1000 para 300 funcionários. Só na Promon Engenharia
mais da metade dos engenheiros fui demitida. Benefícios e práticas sofreram
ajustes: os subsídios para academia e estacionamento foram eliminados e o
trabalho remoto passou a valer para 100% do efetivo em alguns departamentos. O escritório
no Rio de Janeiro, com 100 pessoas, fechou.
"A identidade forte nos ajudou. Mas sei que o que levamos 50
anos para construir pode ser destruído em cinco anos se não houver ações
assertivas", diz Mama Fernandes Kopelman, diretora de RH, para enfrentar a
pressão, a Promon manteve a comunicação transparente. “Nada é mais importante
do que o walk the talk. Temos de mostrar integridade e manter a coerência",
diz Marcia, que defende a participação do líder de recursos humanos na construção
da imagem corporativa. “O RH está sempre avaliando o que afeta o clima organizacional,
ele consegue extrair as ervas daninhas, eliminando as situações e as pessoas
ruins. Ele é um elemento chave inclusive para fazer o elo entre os discursões
que são tomadas, sejam elas para a compra de uma empresa, para entrar numa
linha de negócios diferentes, para contratar um executivo do mercado ou na
forma como divulgar os ratos, interna e externamente."
Experiência
do consumidor
Três
características compõem a reputação corporativa, segundo pesquisadores da
escola de negócios da Universidade Harvard, dos Estados. Unidos: proeminência, percepção
de qualidade e resiliência era. Já o Reputation lnstitute avalia Sete dimensões:
produtos e serviços, governança. Responsabilidade Social e ambiental, inovação,
liderança, desempenho Econômico e ambiente de trabalho“ De
uma forma ou de outra, o líder de recursos humanos colige pelo menos cinco
desses atributos. Afinal, companhias com uma boa gestão de pessoas, nas quais
os empregados dão o melhor de si mesmos e não desperdiçam insumos nem tempo,
tem resultados financeiro melhor. Isso sem falar nos processos desenvolvidos
pelo RH que a atrair mentes criativas e líderes queridos. As empresas perceberam
que a reputação era tão importante que nos últimos anos o RH incorporou a área de
relação institucionais. Porque toda a briga por inovação, coerência, pressão
por crescimento e resultados passa justamente pelas pessoas diz Cabrera. Fato e
que a relações institucionais, produtos, interação com a sociedade ou marca
empregadora não importa todos se tornaram dissociáveis.
A internet, a globalização, a criação de entidades defensoras dos
direitos dos consumidores, dos animais, dos trabalhadores, e o aumento do
ativismo online fizeram crescer a cobrança sobre as corporações. O consumidor
não mais fiel ao patrão (da mesma forma que os empresários nunca foram devotos
dos trabalhadores). As opiniões mudam com a mesma rapidez que um post sobre a experiência
de uma pessoa (Consumidor ou empregado) é compartilhada.
Considerando
isso, a fabricante de computadores Dell tem revisto seus processos de atração
de talentos nos últimos quatro anos. “Pensamos no candidato como um cliente em
potencial, porque, no final do dia, ele pode não ser a pessoa certa para aquela
vaga, mas a experiência dele ao longo do processo vai influenciar sua relação
com a marca como um todo", afirma Miriam Kimura, gerente de talentos da
Dell Brasil. Ela começou tratando da principal queixa de todos os aspirantes a
uma vaga: a de que 0 RH nunca do uma resposta. Para resolver isso, investiu em
um sistema de relacionamento com os clientes (CRM) e agora mantém os candidatos
informados sobre o andamento do processo seletivo. "Deixamos bem claro que
todos os currículos são avaliados, primeiro por inteligência artificial",
diz Miriam. Os concorrentes em busca de oportunidade recebem não só um retorno
como também uma pesquisa de satisfação para avaliar as etapas de recrutamento
da Dell. Quando aparece uma de manda bem específica, a RH faz uma campanha de
atração similar às peças de marketing. Focando os profissionais pré-selecionadas
nos bancos de talentos, usando o CRM. A empresa ainda grava depoimentos de
funcionários nas redes sociais visando alcançar os universitários e leva
estudantes para passar um dia no escritório. “No primeiro ano que fizemos esse
evento convidamos 25 graduandos e só vieram 17. Continuamos trabalhando a
reputação e neste ano recebemos 35 alunos e havia uma fila de espera com mais
de 100 pessoas", diz Miriam. Apesar de não ter números, ela desconfia que
a melhora na experiência do candidato influência no resultado financeiro da
companhia. “Primeiro, porque as pessoas que se aplicam às vagas conhecem melhor
& Dell e têm valores que se encaixam, então gasto menos com treinamento,
Segundo, porque é possível que esse talento que entrou, vendo que há
oportunidades para crescer aqui, não queira sair, o que nos poupa o custo de
contratar novos profissionais e treina-los", afirma. “E ainda consigo um
adicional' o aspirante que não foi selecionado sai do processo com a sensação
de que [oi respeitado, então pode ser (me ele compre algum produto da Dell no
futuro.“
Recurso
de sobrevivência
Pesquisadores da Harvard Business School queriam entender por que
algumas corporações conseguem sobreviver persistentemente em ambientes de
negócios desafiadores, incertos e subdesenvolvidos, como o das economias
emergentes. Geoffrey Jones e sua turma analisaram vídeos de entrevistas com 69
líderes empresariais de países como Brasil, Índia, México e Turquia, um
atrativo. A imagem da Luiza, por outro lado, de uma mulher guerreira, correta e
ética, acaba fortalecendo a marca empregadora, mas isso só é possível porque
somos uma boa empresa para trabalhar", afirma Patrícia Pugas, diretora de
RH da companhia, “É frequente a vinda de profissionais para cá sem aumento
financeiro, porque consideram que estão ganhando de outras formas." Com 20
000 empregados, o Magazine Luiza reforça o que os pesquisadores de Harvard
concluíram no fim do estudo: a boa fama serve de vantagem competitiva.
Os
pesquisadores, na verdade, foram além. Para eles, a imagem é crucial para a
sobrevivência dos negócios nos mercados emergentes, porque "permite que as
em presas superem e capitalizem a incerteza da transação criada por vazios
institucionais". Segundo o relatório Overconing Institutional Voids: A
Reputation Based View of Long Run Survwal, publicado em janeiro, a fama protege
o empreendimento contra as ameaças externas, atrai novos clientes e parceiros,
e aumenta a quantidade de transações. No fim, a reputação é a fonte de longa
duração das organizações.
IMAGEM ARRNHADA
O risco à reputação assusta mais do que outras ameaças
estratégicas que as empresas enfrentam
DANO
À REPUTAÇÃD 0U Ã MARCA
DESACELERAÇÃO
ECONÔMICA
AUMENTO
DA CONCORRÊNCIA
MUDANÇAS
REGULATÓRIAS
INCOMPETÊNCIA
PARA INOVAR
INCAPACIDADE DE ATRAIR E RETER TALENTOS
INTERRUPÇÃO DE NEGOCIOS
INCERTEZAS
POLÍTICAS
RESPONSABILIODADE
CIVIL E SOCIAL
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