
É muito importante para um profissional especializado procurar manter- se atualizado em relação às tendências de ordem geral que surgem em torno da área em que atua. Isso é importante não só para antecipar-se na busca de novos conhecimentos como muito especialmente para ser capaz de dar respostas a outros profissionais e mesmo à direção da organização em que atua, quando solicitado. Um parecer equivocado pode trazer grandes problemas e perdas futuras. Para que isso se torne realidade é essencial que o bom profissional conheça e analise informações que chegam de uma série de fontes, sejam elas de outros países, já que podem indicar tendências de novas regras e práticas a serem adotadas em breve por aqui, como prioritariamente as informações que surgem no nosso País e que provavelmente logo farão parte de nossa realidade e do dia-a-dia das organizações, Muito mais do que apenas conhecer, cabe ao bom profissional interpretar cada uma dessas informações a partir da sua realidade e buscar debatê-las com outros especialistas.
Nem toda tendência que aponta para a facilidade ou mesmo para a suposta eliminação de um problema traz em si a real solução ou, pior ainda, pode ser a causa de um problema maior logo adiante. Digo isso porque vejo com grande preocupação a proliferação de treinamentos online para a área de Segurança do Trabalho. Não sou contra a modernidade e tenho certeza absoluta que esse tipo de treinamento tem seu lugar e utilidade em nossa área, no entanto preocupa-me ver que a decisão quanto ao tipo de treinamento presencial ou não tem sido feita a partir da comodidade e não da realidade de cada organização. Vejam que estamos falando de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, algo que diz respeito à vida humana e que não pode ser tratado como mera formalidade ou apenas para cumprir a legislação.
RESPONSABILIDADE
É preciso que de fato se faça uma prévia análise sobre essa questão e que todos aqueles que estão envolvidos sejam chamados a uma atuação responsável, tanto os que atuam dentro das organizações como todos aqueles que atuam no controle social do assunto. Isso ocorre justamente no momento histórico em que nosso Governo começa a fechar o cerco em torno da farsa da prevenção deixando de lado a aceitação dos modelos super produzidos para a prevenção e atuando na análise e cobrança dos resultados. Essa atitude aponta na direção da eficácia, um passo adiante do que conhecemos hoje na maioria das organizações quando o assunto é prevenção. Para chegarmos a esse ponto um dos caminhos com certeza é a preparação das pessoas, muitas delas sem qualquer noção sobre o que de fato é a prevenção, outras habituadas e mantidas dentro da ideia da prevenção falada e sem qualquer coerência. Alguém vai ter que dizer e convencer essas pessoas que os tempos mudaram e que o brincar de fazer vai custar caro demais. Eu não creio que esse alguém seja algo como uma tela de computador.
NECESSIDADES
Também é importante lembrar que vivemos no Brasil e que há por aqui uma realidade que precisa ser levada em conta quanto à necessidade de treinamentos que considerem a cultura de nossa gente, especialmente para os que acham que vivem em um país onde tudo tem a cor que eles gostam de ver. No Brasil, boa parte dos trabalhadores tem dificuldades para a assimilação de alguns conhecimentos. Qualquer profissional que atua em treinamento sabe que essa é a nossa realidade.
Isso sem falar no hábito de burlar, pois se em cursos presenciais os instrutores, quando externos, cobram a presença das chefias que fogem dos treinamentos da prevenção, o que será feito para garantir que não estejam ali à frente do computador comandados fazendo o curso pelo chefe em um treinamento que, segundo a legislação, é obrigatório? O melhor de tudo isso talvez venha no dia em que precisarmos evidenciar esse mesmo treinamento e, assim como hoje, surgirem assinaturas em folhas de presença de pessoas que diversas testemunhas afirmam que não sabiam ler nem escrever. Quem será responsabilizado? Acho importante o uso da informática para essa finalidade e tantas outras e sonho que um dia todos teremos condições de usá-la.
Vejo que neste momento há muito espaço para que treinamentos para a gestão, por exemplo, usem esse meio, mas a experiência me faz crer que os treinamentos de caráter obrigatório e que são básicos para a prevenção não podem ter esse formato. Isso é mexer no pouco que ainda temos e expor vidas e organizações a sérios problemas.
Fonte: Revista Proteção, março/2010