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Seu inimigo tornou-se, portanto, muito mais perigoso e encará-lo talvez signifique sacrificar a própria vida pessoal. Logo na primeira sequência de cenas, Padilha dá ao público uma verdadeira aula de cinema, pois usa recursos que proporcionam um ritmo acelerado ao longa, fator essencial a qualquer obra de ação. Como exemplo, têm-se a antecipação do clímax, cortado em momento chave pelo título, acompanhado pela famosa música tema do Tihuana. Destaca-se também a intercalação das falas de Nascimento e Fraga, personagens com ideologias completamente opostas.
Por meio dessas frases, aliás, percebe-se claramente que o discurso do personagem é também o do próprio diretor. Ao dizer "Já me chamaram de fascista", Padilha claramente usa Nascimento para alfinetar as críticas feitas ao primeiro longa. A narração, feita por Wagner Moura em várias partes do filme, é outro recurso muito bem pensado pela equipe criativa. Se Nascimento é o personagem foco da história, nada mais propício do que ele mesmo narrá-la. Além do mais, tal recurso adquire, às vezes, tom explicativo, economizando cenas no filme, o qual tem praticamente duas horas de duração.
A propósito, Wagner Moura retorna, extremamente confortável, ao personagem mais marcante de sua carreira e entrega outra excelente atuação. Seu personagem tem problemas no trabalho, na família e nada parece dar certo... Nascimento, basicamente, apanha de todos os lados. Em alguns momentos chega a ser difícil acreditar que alguém tenha tanta força para continuar lutando. Porém tal fato, por mais difícil que pareça, se justifica na própria ideologia do personagem. Para ele "a guerra é uma válvula de escape". Dessa forma, "só tem paz... quem aprende a lutar". Porém, não só Wagner Moura merece ser lembrado. Tropa de Elite 2 acerta também pela sintonia de seu elenco.
Há outras fantásticas atuações como as de Milhem Cortaz, Sandro Rocha e André Mattos que logo conquistam o público. Entretanto é Irandhir Santos a maior adição ao elenco. Seu personagem, o Deputado Fraga, apresenta-se como a perfeita contra-parte de Nascimento. É engraçado ver como os dois tendem a se aliar do decurso do filme pois, apesar da richa pessoal, ambos têm um inimigo em comum. Um inimigo forte demais para se enfrentar sozinho. Contudo, Padilha representa em cada um, uma forma distinta de enfrentar o sistema. De um lado, Nascimento: violento e considerado fascista por alguns. De outro, Fraga: pacífico, defensor 'da esquerda'... quase um Che Guevara.
Dessa forma, fica clara a mensagem do diretor: Não interessa de que lado você esteja, o importante é lutar. Por mais que o sistema entregue a mão para não perder o braço, ele sairá enfraquecido e aos poucos vitórias se acumularão. Na cena, perto do final, em que Padilha sugere como seria se BOPE abordasse também a elite corrupta, o público vai ao delírio. Isso porque aquela é, de fato, a vontade de todos. Naquele instante, todos se projetam em Nascimento pois todos têm a vontade de dar uns bons tapas em algum político corrupto. O povo, claro, não pode agir dessa forma, mas precisa reaver o seu interesse pela política do país já que, por pior que ela esteja, é dele o poder de mudança.
Mostra-se necessário acreditar que ainda existem por aí Fragas e Nascimentos dispostos a lutar, sendo que nós mesmos precisamos ser um pouco como eles. Por fim, Tropa de Elite é um perfeito exemplo de cinema não só como entretenimento, mas também como ferramenta social. Uma crítica a políticos e policias corruptos, à mídia sensacionalista e principalmente ao Estado, pois é ele, devido à sua ineficiência, o próprio causador da violência urbana. Ver nos créditos de abertura os nomes de José Padilha, Bráulio Mantovani e Wagner Moura deveria ser, para os brasileiros, motivo de orgulho pois é essa a prova de que o cinema nacional pode dar certo. Basta vontade, boas ideias e um pouco mais de investimento.
Fonte: Cinema Dimensão