
Quantos são os médicos especializados na área e como está o quadro atual de saúde do trabalhador amazonense?
Temos uma boa quantidade de médicos, acima de 200 nessa especialidade. Agora nosso Polo Industrial de Manaus é onde existe uma das maiores incidência de doenças ocupacionais do País. No ranking nacional estamos sempre entre os primeiros. No último que olhei, o Amazonas só perdia para a Bahia
Porque chegamos a esse nível?
Na verdade isso ocorre porque o investimento em atualização, capacitação e preparo das equipes de saúde e segurança no trabalho é pouco. Esse investimento ainda é visto como questão secundária nas empresa. Com isso acabamos não tendo equipes preparadas para fazer frente aos problemas e a incidência de doenças laborais aumenta.
A Associação Nacional dos Médicos do Trabalho realizou na semana um encontro em Manaus. Qual o foco das discussões?
Atualização em Medicina. Tratamos de temas como doenças ocupacionais, LER (lesão poir esforço repetitivo/DORT (disrúrbio osteomusculares relacionados ao trabalho) e atualização de normas técnicas, onde muita coisa mudou.
Quais normas mudaram e o que elas normatizam?
Tem a NR 12, que trata de como evitar acidentes do trabalho no manuseio de máquinas e equipamentos. A NR 32, que trata dos riscos de manipulação de agentes biológicos e de riscos para quem trabalha em hospitais ou em ambientes de unidades de saúde. Tratamos também de novos distúrbios que afetam o trabalhador.
Quais são eles e como o médico pode atuar nestes casos?
O assedio moral, por exemplo, exige muito cuidado por parte dos médicos do trabalho. Ele pode motivar uma doença psiquiátrica ou distúrbios do tipo ansiedade , depressão ou transtornos do humor. Ao médico do trabalho cabe estar preparado para identificar o problema, recorrer a especialistas quando for o caso, mas no geral é estar preparado para atuar numa eventual incidência dessas doenças. A preocupação é saber como identificar precocemente, diagnosticar e tratar o mais rápido possível doenças como depressão, ansiedade síndrome de pânico, hoje todas podem ser motivadas pelo trabalho.
O quadro ruim do Amazonas é um problema da indústria ou está presente também em outros setores da economia?
Esse quadro é geral e deve-se, por exemplo, às condições sanitárias que ainda vemos em canteiros de obras. Muitas empresas não não oferecem as condições mínimas sanitárias para que os trabalhadores exerçam a função deles sem problemas. Infelizmente essa é a nossa realidade.
Isso independe do tamanho da empresa?
Nas grandes multinacionais você vê menos problemas, há muita fiscalização e elas acabam atuando, mas mesmo nelas não vemos o cuidado em investir e preparar médicos, engenheiros e enfermeiros na atualização dos temas. Nós realizamos um evento como este, que trouxe especialistas de fora, gente capacitada, mas pouquíssimos profissionais são liberados pelas empresas para comparecer. Uma colega de Belém foi liberada, mas terá de pagar os dias ausentes depois. Ou seja, ela fez um investimento que trará benefício para a empresa. Não custa lembrar que é obrigação da empresa cuidar da segurança e da saúde do trabalhador.
Esse quadro também se estende ao comércio, um dos segmentos que mais gera empregos em Manaus?
Vá ao comércio de Manaus e procure localizar uma cadeira para o trabalhador descansar. Não tem, o cara fica ali oito horas em pé, no final do expediente ele terá problemas circulatórios, varizes de membros inferiores, problemas posturais e, pior, essa situação gera a insatisfação do colaborador que percebe a falta de respeito para com a saúde dele.
Os empresários reclamam muito do excesso de atestados para dispensa do trabalhador. Como o senhor vê essa situação?
A Medicina do trabalho não dá atestado. Quem dá são outros médicos, o médico do trabalho recebe e analisa a incidência das doenças anotadas no atestado. Faz um trabalho estatístico. A problemática do atestado não depende da Medicina do Trabalho, nós fazemos apenas a tratativa para saber porque um trabalhador está se afastando.
Qual o futuro da Medicina do Trabalho?
O próximo passo aqui na regional é trazer capacitação e qualificação para as equipes e melhorar o status do nosso Estado, é uma vergonha para uma cidade que tem um polo industrial importante para o nosso pais ter a maior incidência de acidentes e doenças ocupacionais do País. É um status que precisa mudar. Temos de atuar com a Superintendencia de Trabalho e Emprego (SRTE), Ministério Público do Trabalho e Suframa, só assim vamos trazer melhores condições e qualidade de vida para os nossos trabalhadores
A propósito de qualidade de vida, os últimos três meses do ano são marcados pelo crescimento do número de horas extras. Quais os perigos que isso representa para o trabalhador que está de olho numa renda extra para o fim de ano?
Hora extra sempre tem de ser feita com parcimônia, com cuidado. Do contrário causará sobrecarga no trabalhador, principalmente onde tem esforços repetitivos. O ideal é ter parcimônia , numa uma mesma pessoa deve ficar fazendo extras seguidamente. É preciso que a fiscalização atue para impedir os abusos.
Fonte: Critica Manaus