Header Ads Widget

Responsive Advertisement

Violência na escola


A situação de violência repetida, entre alunos, na escola, violência psicológica, verbal e/ou física, normalmente exercida sobre os mais fracos, merece uma reflexão profunda, séria e ampla que não é certamente neste espaço que pode ser realizada; no entanto, podemos apontar alguns aspectos que, em nossa opinião, devem ser tomados em linha de conta.
1 - O fenómeno da violência escolar entre alunos, modernamente designado por bullying, está por demais estudado nos vários países ocidentais, com particular relevância para a Grã-Bretanha e Estados Unidos da América, aonde já foram sendo experimentadas e comprovadas algumas hipóteses de mitigação da materialização desta ameaça; convinha ir ver, estudar e perceber o que pode ser adaptado cá para evitarmos repetição de erros já cometidos que se traduzem não só em perda de tempo, mas em aumento do número de crianças e jovens vitimizados.
2 - O fenómeno é por demais complexo e sem multidisciplinaridade no seu confronto e tratamento não parece ser possível diminuir o risco de este tipo de incidentes ocorrerem; o querer explicar e tratar este
tipo de incidente exclusivamente numa perspectiva psicológica e sociológica é ser-se optimista no melhor dos casos e ser-se irresponsável no pior dos casos; se a multidisciplinaridade é necessária, esta não evita a multitude de actores que podem estar envolvidos tanto na vertente de potenciação de condições para a existência do(s) agressor(es) como na vertente daqueles que têm de lidar operacionalmente com os incidentes quando ocorrem e têm de prevenir a eclosão de outros. É um tipo de incidente de extraordinária dificuldade de ser prevenido e com igual grau de dificuldade de ser tratado.

3 - Arriscamos afirmar que este fenómeno sempre existiu nas escolas, quaisquer que estas fossem, podendo quando muito ser mais visível ou estar mais encoberto; de facto, todos nós temos conhecimento de situações que possam ser classificadas como violência gratuita repetida entre os mais fortes e os mais fracos, designadamente no período escolar; todos se lembram com certeza de frases de autodefesa como “o meu pai é polícia” ou “vão ver o que os meus irmãos vos vão fazer”, entre tantas outras limitadas apenas pela imaginação do momento e pelo grau de desespero da vítima. Ou seja, o fenómeno parece-nos bem antigo.
4 - A evolução e o desenvolvimento rápido da sociedade não é realizado, como todos nós bem sabemos, sem riscos; bem pelo contrário, vamos diminuindo alguns, vamos aumentado ou tendo conhecimento de outros, o que nos obriga também a procurarmos estar permanentemente atentos e preparados para lidar com os mesmos. O acesso que hoje, potencialmente, todos temos à informação – em sentido lato – e,em particular, as crianças e jovens, alteraram as regras do “jogo” educacional a que estivemos habituados no “nosso tempo”. Os desejos, as crenças, os valores e as idiossincrasias
das crianças e dos jovens atuais devem ser analisadas com base no “tempo” deles; tal não implica que não haja princípios enformadores, razão pela qual continuamos a olhar a escola não apenas como local de aprendizagem científica, mas também local de aprendizagem social: mas o contexto não é aquele que gostaríamos que fosse, mas sim aquele que é, com todos os aspectos positivos e negativos que tal situação comporta.

5 - Os temas autoridade e disciplina carregam, em si, toda uma série de considerações negativas para muitas pessoas; para além disso é altamente incorreto politicamente abordar-se tal assunto, mas
parece necessário, não só face à situação em apreciação como face à vida em geral. Não parece que um qualquer tipo de sociedade possa funcionar sem um dado grau de autoridade e disciplina; o mesmo parece ser verdade para a escola. A aparente falta de autoridade e disciplina do sistema educativo parece ser outro assunto que terá, necessariamente, de ser reavaliado e reestruturado; aqui, como em relação a outros temas por nós aflorados nestes artigos, também a decisão política, por vezes tomada para satisfação de interesses e objectivos imediatos, terá de passar a ter de ter em atenção as consequências de médio e longo prazo de uma determinada decisão. Não parece possível continuar a ter um sistema educativo que não penaliza a indisciplina dos alunos – logo, não premeia a disciplina – ou que lhes permite uma constante possibilidade de ultrapassar as várias situações criadas sem consequência.

A responsabilidade parental é outro tema a ter em atenção neste assunto.

Numa época em que os pais mais têm de trabalhar para proporcionar os meios de subsistência e/ou têm de se deslocar para distâncias cada vez maiores para assegurarem aquela subsistência, logo passando cada vez menos tempo com os seus filhos, parece ser difícil, para dizermos o mínimo, que os mesmos tenham uma possibilidade real de fazer um acompanhamento eficaz dos seus filhos. Aqui também será preciso procurar soluções de recurso e não parecem ser tão simples quanto “responsabilizar” as famílias, designadamente com cortes de subsídios sociais ou outros; este tipo de comportamento imediatista – diríamos populista na sua pior acepção – tem normalmente consequências bem mais gravosas do que aquelas situações que pretensamente visam resolver.

Isto são apenas pinceladas breves para um problema multidimensional e altamente complexo, mas que, a não ser tratado, terá naturalmente recorrências e, infelizmente, sempre graves.
Não parece ser o momento de se procurarem responsabilidades, até porque, como sempre em Portugal, só acordamos quando a porta nos bate na cara; no entanto, importaria olhar,  desapaixonadamente, para o percurso do sistema educativo nas suas várias dimensões ao longo dos últimos 25 anos em Portugal e fazer-se uma análise rigorosa e profunda das consequências positivas e negativas que tal percurso proporcionou.
Que não volte a acontecer o que, aparentemente, aconteceu.
                                                                     Paulo Macedo
M.Sc. em Gestão de Segurança – RMCS – Cranfield University, UK.
Crt. em Estudos de Terrorismo – CSTPV – St. Andrews University, Uk

Postar um comentário

0 Comentários