
Cada vez mais idealizada, a melhoraria da qualidade de vida dos seres humanos, bem como a busca pela satisfação de gozar de uma boa saúde física e mental no atual e agitado dia-a-dia, fez com que vários temas, até então pouco conhecidos, mudassem de tal forma que os controles ambientais tornaram-se mais exigentes.
Ao passo que as legislações reguladoras da emissão de poluentes em fábricas, desmatamento de florestas, fiscalização de tratamento de água entre outras aspectos ambientais estão vigentes, cada vez mais os seres humanos se confinam em prédios fechados cuja atmosfera é circulada e renovada por sistemas de ventilação mecânica ou de ar condicionado.
No Brasil, em vigor desde de 25 de outubro de 2000, a Resolução n. 176 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e atualizada em 16 de janeiro de 2003 pela resolução 009, estabeleceu regras para que os sistemas de ar condicionado não se transformem em ameaça permanente às pessoas que freqüentam ambientes climatizados artificialmente.
A má qualidade do ar interno dos edifícios passou a ser conhecida mundialmente como a “Síndrome dos Edifícios Doentes”, resultado de uma conjunção de fatores que vão desde os problemas no projeto até a má conservação dos dutos, causando dois tipos básicos de contaminação: a biológica por fungos, bactérias, vírus e protozoários e até mesmo aracnídeos como é o caso dos ácaros e, a química proveniente de gases liberados por produtos de limpeza, vernizes, tintas, equipamentos de escritório, colas, aumento no nível de dióxido de carbono etc.
O ar não proporciona crescimento microbiano mas é um potente disseminador. Por conter partículas de poeira e água é capaz de transportar os microorganismos e expô-los em contato com as pessoas (PELCZAR et al, 1980). Entretanto, os tipos de germes presentes são determinados por fontes contaminantes, sendo os aparelhos de ar condicionado, na grande maioria dos casos, um maximizador deste processo de contaminação, vários deles não são freqüentemente limpos e monitorados quanto as suas condições assépticas.
Dentro deste contexto, a poluição interna dos ambientes está se tornando assunto de relevância em vários países, uma vez que existem confirmações científicas correlacionando algumas doenças respiratórias e alérgicas aos sistemas de ar condicionado e ventilação em estados precários de higiene e limpeza, contribuindo para a disseminação de microorganismos no ambiente.
Usuários de locais com ar condicionado freqüentemente apresentam ardência e secura nos olhos, mal estar, dor de cabeça, fadiga e gripes constantes (KLINGER, K.; Folha de São Paulo; ed. 21/12/2000), fato devido a não desinfecção do sistema de ventilação.
Especialistas reconhecem que um edifício está doente quando 20% de sua população apresenta sintomas de doenças alérgicas e pulmonares ocasionalmente melhorando quando estão afastadas do local.(KLINGER, K. Folha de São Paulo, 21/12/2000)
Para se ter a idéia da dimensão desse problema a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que os gastos gerados ao ano com os doentes é cerca de cem bilhões de dólares ao ano nos Estados Unidos devido ao absenteísmo, queda de produtividade e intervenções na saúde, fatos que levaram a OMS a considerar esta síndrome como uma questão de saúde ocupacional desde 1983.
Países como Estados Unidos realizam pesquisas sobre o assunto e segundo a “América Lung Associator” (associação pulmonar americana), muitos americanos despendem 90% de seu tempo dentro de prédios climatizados. Outros dados ainda demonstram que o número de asmáticos cresceu 59% desde 1970, totalizando 9,6 milhões de doentes de asma,, sendo os óbitos dados em 4400 casos ao ano, um crescimento de 69% desde 1979 e hoje é considerado que cerca de 20% a 42% da população urbana é alérgica.O americanos gastam US$ 6,4 bilhões ao ano tratando pessoas com asma e a rinite alérgica responde por 45 milhões de faltas nas escolas por ano (http://www.santalucia.com.br/torax/arcond-p.htm ) Do outro lado do mundo, na França, um total de 17 pessoas morreram em conseqüência de uma epidemia de legionelose registrada de novembro de 2003 a janeiro de 2004 na região de Pas de Calais, ao norte do país, segundo o balanço definitivo divulgado pelas autoridades locais. (www.fundacentro.gov.br).
A Associação Paulista de Medicina também demonstrou uma crescente ocorrência de ceratite amebiana. Essa infecção atinge o olho por um protozoário que prolifera em água, muito encontrado nas bandejas que recolhem a condensação da umidade do ar nos condicionadores, o número de pacientes atingidos saltou de dois em 1975 para 350 em 1990.
Em 1984, o World Health Organization Comitee ( Comite Mundial de Organização da Saúde) emitiu um relatório informando que 30% dos prédios novos e remodelados no mundo apresentam altas taxas de concentrações de poluentes biológicos e químicos no ar interno.
Dados da Health Buildings International mostra que o nível de poluição no ambiente interno de alguns edifícios chega a ser cem vezes maior que o externo, devido a pouca renovação do ar dos sistemas de ar condicionado em más condições sanitárias.
Avaliando que uma pessoa adulta inala quinze mil litros de ar por dia e mais da metade do tempo diário, encontra-se exercendo atividades em ambientes internos com sistemas de ar condicionado, seja trabalhando, fazendo compras, aulas de ginástica ou divertindo-se em cinemas e teatros, é possível concluir que a qualidade do ar interno dos ambientes fechados pode afetar de modo significativo a saúde humana.
Vale a pena lembrar que uma árvore isolada pode transpirar, em média, 400 litros de água por dia, produzindo um efeito refrescante equivalente a 5 condicionadores de ar com capacidade de 2.500 kcal cada e funcionando 20 horas por dia (Guia de Planejamento da Arborização Urbana Cesp, CPFL e Eletropaulo). Portanto, é de extrema importância avaliar muito bem quais são as vantagens de se viver em um ambiente “fresquinho” porém, artificial.
ELIANA A BUZELLI
Bióloga, especialista em Ecologia e Gestão Ambiental, mestrandaem Tecnologia Ambiental
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