
Entre as necessidades reais das organizações, a formação frágil dos profissionais e a ideia de que quase sempre basta copiar um modelo, sobrevive na área de prevenção de acidentes. É triste ver que esse modo de ser não se traduz em benefícios para ninguém – que parte das vezes custa muito dinheiro sem que isso acabe proporcionando os resultados que todos esperam. De quando em quando surge uma nova legislação, outra nova ferramenta, mas, infelizmente, quase tudo se perde. Boa parte das vezes porque são poucos aqueles que entendem para que, de fato, serve a atuação prevencionista. Ela jamais deve ser uma exceção, um apêndice ou uma função dissociada das demais atividades. A boa prevenção se faz de forma inerente e dentro da compreensão e possibilidade das pessoas. Deveríamos aprender já na escola que a prevenção não existe para atrapalhar as organizações e as pessoas. É preciso rever isso e aqueles que estão na área precisam fazer um grande esforço para deixar de lado os velhos e cômodos chavões. Trabalhar com segurança deveria ser uma coisa natural e normal, assim como aquilo que se planeja para o trabalho seguro e saudável deveria sempre ser submetido a uma boa análise antes de ser imposto às pessoas. Para ser bom, um Programa de Segurança e Saúde no Trabalho não precisa ser necessariamente complexo e pesado. Acima de tudo, precisa ser possível de ser executado. Há entre nós uma cultura de que pelo fato da área estar ligada diretamente à legislação e também à saúde humana, ela não precisa ter limites lógicos ou estar alinhada aos objetivos da organização. Precisamos parar de crer que o SESMT é uma ONG dentro das empresas e dedicar mais tempo à compreensão do que de fato se espera de uma área técnica.
ERROS: De ciclos em ciclos vamos repetindo os mesmos erros. Quando surgiu o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – lembro bem – ficou no ar uma sensação de que dali em diante estaria tudo resolvido. E, de fato, o PPRA é uma forma racional e inteligente de tratar os assuntos. Mas faltou profundidade quanto a esse entendimento e aquilo que veio para nos ajudar a enxergar e organizar a tratativa de problemas, tornando-se, para a grande maioria, mais uma formalidade para agradar clientes externos. Faltou vida ao PPRA e, mais do que isso, faltaram também pessoas capazes de entender o giro de uma gestão. Muitos acham que o problema do PPRA são as organizações e eu tenho certeza que o problema do PPRA foi a falta de gente capaz de levá-lo de forma inteligente e efetiva para dentro das organizações. O trem passou, mas na estação poucos entenderam o que de fato era aquele trem, qual direção tinha e qual o real objetivo de sua existência. Temos a OHSAS 18.001 – que embora já exista há bastante tempo e seja adotada por grandes empresas, somente agora começa a ganhar força nas organizações de médio e pequeno porte, até porque passa a ser exigida na relação comercial.
CONHECIMENTO: Trabalhar tecnicamente não é buscar justiça social por meio de nossas ações – isso é papel da nossa faceta de cidadão e não do profissional. Desenhar a gestão para a empresa não é organizar uma quermesse ou um chá beneficente, mas aplicar conhecimentos para que sigam funcionando e, simultaneamente, incorporem de forma mais positiva, contínua e constante os valores e práticas, por exemplo, prevencionistas. Isso só pode ocorrer se for feito de forma customizada e levando em conta todas as variáveis existentes. Além disso, desenhar uma gestão somente ocorre se o especialista que vai fazê-la tiver consciência sobre a verdadeira razão do seu trabalho e maturidade sobre a necessidade de mudanças. Ao mesmo tempo, para que todo esse processo possa ser real, há necessidade de se trabalhar com auditorias e auditores que, mais do que normas, conheçam a realidade, que mais do que responder simplesmente perguntas de guias, tenham a capacidade de interpretar, dentro de determinado contexto, o que de fato está ocorrendo.
Tal como aconteceu com o PPRA, falta à OHSAS 18.001 pessoas capazes não só de fazer, mas fazer bem feito e assumir o papel de verdadeiro gestor capaz de fazer valer o que a organização deseja e planeja, mantendo-se distante dos modismos e achismos tão comuns e extremamente prejudiciais. Seguimos precisando de gente que saiba mais do que ler ou mostrar um diploma. A realidade pede gente que saiba para o que servem as coisas.
Por Cosmo Palásio de Moraes Junior
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